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Allamej hezel kune ?

O que é  alamês? 

Alamês ou allamej é um idioma híbrido, resultante da mistura de várias línguas do mundo. É uma simbolização da união cultural através da língua. Falar alamês seria como pronunciar palavras europeias, indianas, semitas, chinesas, africanas, turcas, indígenas etc... na mesma língua. Seria como abraçar cada uma das culturas do mundo numa através da língua.   

O alamês começou a ser construído quando eu tinha 17 anos de idade. Meu fascínio por línguas, culturas e religiões e contato com elas me inspiraram e comecei a traçar as primeiras regras do que se transformaria numa das línguas construídas mais híbridas se comparada às mais conhecidas na primeira década do ano 2000. Todavia, uma mera desconhecida, como é o caso da maior parte das línguas construídas ou conlangs.

 

Desde um esboço de linguagem humana, o alamês seguiu como uma brincadeira de misturar e compatibilizar palavras e conceitos o que foi ampliando seu vocabulário e dando forma a sua estrutura peculiar de difícil classificação linguística, já que se aproxima de modelos ocidentais e orientais ao mesmo tempo, absorvendo também elementos africanos e indígenas.  

Para chamar o alamês de língua é preciso uma certa generalização, uma vez que a língua para existir precisa ser falada. As línguas naturais juntamente com a cultura, por exemplo, têm um processo de transmissão sígnica de geração a geração, e incluem toda uma comunidade. E é através deste processo que nosso pensamento se constitui, nossa cultura se aprende e compreendemos o que é certo e errado – na língua. 

 

A palavra allamej é composta por três radicais : Al que provém das línguas germânicas alles do alemão ou all do inglês e significa todo ou tudo. Lam, um radical semita, do árabe عالم [ʔalam] e do hebraico עולם [ʔolam], cujo o significado é mundo. Por último, o radical ej cuja origem é turca. Em turco o nome das línguas geralmente terminam em ce [dʒe] (entre outras formas que pedem harmonia com a palavra). Juntas, estas três partículas traduzem o significado da palavra: Língua do mundo todo.

 

Mas a língua não tem este nome porque pretende ser falada pelo mundo todo. Não é, portanto, uma língua que se pretende auxiliar global como o volapük ou esperanto e diversas outras que surgiram. Seu nome é um reforço à hibridez, ao respeito em relação à diversidade cultural, ao desejo de misturar e incluir. A característica global do alamês é devido a não estar vinculado a um determinado grupo étnico, mas a culturas e línguas espalhadas por todos os continentes. É uma língua estruturalmente global.   

 

Sua formação léxica conta com radicais originados a partir de palavras de diversos idiomas de várias línguas e sub-famílias linguísticas como: chinês, germânico, grego, iorubá, japonês, línguas bantas, línguas celtas, línguas eslavas, línguas índicas, línguas latinas, línguas semitas, línguas turcas, persa, quíchua, tailandês e tupi-guarani entre outras.

 

A língua é formada a partir de uma lógica de que cada sílaba possui um significado, e num processo semelhante ao da língua chinesa, a união destas sílabas forma outras palavras. Por exemplo, sam, do semita, significa “céu” e xuy, do chinês, traduz-se por “água”. Juntas formam samxuy, chuva. 

 

Além disto, possui um sistema parecido, mas não exato, ao de sufixação, ou posposições que vão mudando o significado original da palavra comum em diversas línguas de várias famílias. 

Desta maneira, um radical como ir, inspirado em línguas latinas (como ir em português ou espanhol) cujo significado é “movimento” pode formar diversas outras palavras como: iri “ir”, irem “vou”, irëk “carro” ou “trasporte” (aquilo com o que se vai), irëv “destino”, írik “indo”, irën “rua” ou “caminho”, íretiv “para que você vá” e assim por diante, conforme sílaba que for adicionada a ir. Neste aspecto, pode parecer com línguas turcas, húngaro ou, mais distantemente, o coreano ou o japonês. Com este processo é possível criar inúmeras palavras e até mesmo compreender palavras jamais ouvidas ou lidas desde que se conheçam as partes que a compõem.

 

A língua também não usa preposições, valendo-se de terminações de caso para determinar a função das palavras. Em inglês ou em português, por exemplo, dizemos at home, ou “em casa”. Em alamês, a função da preposição é feita através de um sufixo. Por exemplo, bayt , do semita, significa “casa”, baytun significa “em casa”. Este aspecto, embora muito mais simples, é semelhante às declinações do latim, russo, ou islandês por um lado e com os casos gramaticais de línguas turcas e indianas.   

Este processo de misturar aspectos de várias raízes linguísticas e compatibilizá-los numa estrutura regular, com estilo próprio embora misto, constitui a essência do alamês. Desta maneira, como a maioria das línguas construídas, pode ser considerada como uma arte, a mesma à que se refere David Peterson, em seu livro The art of language invention “A arte da invenção de línguas” (sem versão em português). É, antes de mais nada, um convite para refletir sobre o pensamento global, no sentido de respeitar e incluir as diferenças, já que a língua é o que o que estrutura o nosso pensamento. 

 

Se nossas diferenças linguísticas e, consequentemente, culturais provocam a segregação da humanidade, o papel do alamês é instigar um pensamento de harmonia. O alamês dificilmente teria uma essência parcial seja cultural ou étnica. É uma língua fundamentalmente humana, e, como outras criações artísticas híbridas e ecléticas deve provocar "filosofias" que não podem ser parciais, mas válidas para toda a humanidade. 

“A filosofia é uma batalha contra o enfeitiçamento de nossa inteligência por meio da linguagem.” Ludwig Wittggenstein – Um dos maiores filósofos da língua. (LAW, 2007, p. 15)

  

... e entre as maiores contribuições para este "enfeitiçamento" que a língua nos transmite pode estar uma visão parcial da realidade do mudo. 

 

Rodrigo Solano

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